Livro: Édipo Rei Página 2
Autor - Fonte: Sófocles
...ordena, expressamente, que purifiquemos esta terra da mancha que
ela mantém; que não a deixemos agravar-se até tornar-se incurável.
ÉDIPO
Mas, por que meios devemos realizar essa purificação? De que
mancha se trata?
CREONTE
Urge expulsar o culpado, ou punir, com a morte, o assassino,
pois o sangue maculou a cidades.
ÉDIPO
De que homem se refere o oráculo à morte?
CREONTE
Laios, o príncipe, reinou outrora neste país, antes que te tornasses
nosso
rei.
ÉDIPO
Sim; muito ouvi falar nele, mas nunca o vi.
CREONTE
Tendo sido morto o rei Laios, o deus agora exige que seja punido 0
seu assassino, seja quem for.
ÉDIPO
Mas onde se encontra ele? Como descobrir o culpado de um crime
tão antigo?
CREONTE
Aqui mesmo, na cidade, afirmou o oráculo. Tudo o que se procura,
será descoberto; e aquilo de que descuramos, nos escapa.
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ÉDIPO fica pensativo por um momento
ÉDIPO
Foi na cidade, no campo, ou em terra estranha que se cometeu o
homicídio de Laios?
CREONTE
Ele partiu de Tebas, para consultar o oráculo, conforme nos disse, e
não mais voltou.
ÉDIPO
E nenhuma testemunha, nenhum companheiro de viagem viu
qualquer coisa que nos possa esclarecer a respeito?
CREONTE
Morreram todos, com exceção de um único, que, apavorado, conseguiu
fugir, e de tudo o que viu só nos pôde dizer uma coisa.
ÉDIPO
Que disse ele? Uma breve revelação pode facilitar-nos a descoberta
de muita coisa, desde que nos dê um vislumbre de esperança.
CREON...
E
Disse-nos ele que foram salteadores que encontraram Laios e sua
escolta, e o mataram. Não um só, mas um numeroso bando.
ÉDIPO
Mas como, e para que teria o assassino praticado tão audacioso
atentado, se não foi coisa tramada aqui, mediante suborno?
CREONTE
Também a nós ocorreu essa idéia; mas, depois da morte do
rei,ninguém pensou em castigar o criminoso, tal era a desgraça que nos
ameaçava.
ÉDIPO
Que calamidade era essa, que vos impediu de investigar o que se
passara?
CREONTE
A Esfinge, com seus enigmas, obrigou-nos a deixar de lado os
Fatos incertos, para só pensar no que tínhamos diante de nós.
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ÉDIPO
Está bem; havemos de voltar à origem desse crime, e pô-lo em
evidência. É digna de Apoio, e de ti, a solicitude que tendes pelo
morto; por isso mesmo ver-me-eis secundando vosso esforço, a fim de
reabilitar e vingar a divindade e o país ao mesmo tempo. E não será
por um estranho, mas no meu interesse que resolvo punir esse crime;
quem quer que haja sido o assassino do rei Laios bem pode querer, por
igual forma, ferir-me com a mesma audácia. Auxiliando-vos, portanto,
eu sirvo a minha própria causas. Depressa, meus filhos! Erguei-vos
e tomai vossas palmas de suplicantes; que outros convoquem os
cidadãos de Cadmo; eu não recuarei diante de obstáculo algum! Com o
auxilio do Deus, ou seremos todos felizes, ou ver-se-á nossa total ruína!
O SACERDOTE
Levantemo-nos, meus filhos! O que ele acaba de anunciar é,
precisamente, o que vínhamos pedir aqui. Que Apoio, que nos envia
essa predição oracular, possa-nos socorrer, também, para pôr um fim
ao flagelo que nos tortura!
Saem ÉDIPO, CREONTE, O SACERDOTE. Retira-se o povo.
Entra O CORO, composto de quinze notáveis tebanos.
O CORO
Doce palavra de Zeus, que nos trazes do santuário dourado de
Delfos à cidade ilustre de Tebas? Temos o espírito conturbado pelo
terror, e o desespero nos quebranta. Ó Apolo, nome tutelar de Delos,
tu que sabes curar todos os males, que sorte nos reservas agora, ou
pelos anos futuros? Dize-nos tu, filha da áurea Esperança, divina
voz imortal! Também a ti recorremos, ó filha de Zeus. Palas eterna, e a
tua divina irmã, Diana, protetora de nossa pátria, em seu trono glorioso
na Ágora imensa; e Apoio, que ao longe expede suas setas; vinde
todos vós em nosso socorro; assim como já nos salvastes outrora de
uma desgraça que nos ameaçava, vinde hoje salvar-nos de novo!
Ai de nós, que sofremos dores sem conta! Todo o povo atingido
pelo contágio, sem que nos venha à mente recurso algum, que nos
possa valer! Fenecem os frutos da terra; as mães não podem resistir
às dores do parto; e as vítimas de tanta desgraça atiram-se à região
do deus das trevas.
Privada desses mortos inúmeros, a cidade perece, e, sem piedade, sem
uma só lágrima, jazem os corpos pelo chão, espalhando o contágio
terrível; as esposas, as mães idosas, com seus cabelos brancos, nos
degraus dos altares...
nte, o que vínhamos pedir aqui. Que Apoio, que nos envia
essa predição oracular, possa-nos socorrer, também, para pôr um fim
ao flagelo que nos tortura!
Saem ÉDIPO, CREONTE, O SACERDOTE. Retira-se o povo.
Entra O CORO, composto de quinze notáveis tebanos.
O CORO
Doce palavra de Zeus, que nos trazes do santuário dourado de
Delfos à cidade ilustre de Tebas? Temos o espírito conturbado pelo
terror, e o desespero nos quebranta. Ó Apolo, nome tutelar de Delos,
tu que sabes curar todos os males, que sorte nos reservas agora, ou
pelos anos futuros? Dize-nos tu, filha da áurea Esperança, divina
voz imortal! Também a ti recorremos, ó filha de Zeus. Palas eterna, e a
tua divina irmã, Diana, protetora de nossa pátria, em seu trono glorioso
na Ágora imensa; e Apoio, que ao longe expede suas setas; vinde
todos vós em nosso socorro; assim como já nos salvastes outrora de
uma desgraça que nos ameaçava, vinde hoje salvar-nos de novo!
Ai de nós, que sofremos dores sem conta! Todo o povo atingido
pelo contágio, sem que nos venha à mente recurso algum, que nos
possa valer! Fenecem os frutos da terra; as mães não podem resistir
às dores do parto; e as vítimas de tanta desgraça atiram-se à região
do deus das trevas.
Privada desses mortos inúmeros, a cidade perece, e, sem piedade, sem
uma só lágrima, jazem os corpos pelo chão, espalhando o contágio
terrível; as esposas, as mães idosas, com seus cabelos brancos, nos
degraus dos altares para onde correm de todo os pontos, soltam
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gemidos pungentes, implorando o fim de tanta desventura. E à
lamúria dolorosa se juntam os sons soturnos.
E o poderoso Marte, que ora nos inflama sem o bronze dos escudos,
ferindo-nos no meio destes gritos de horror, afungentai-o para bem
longe de nossa terra, ou para o vastíssimo leito de Anfitrite, ou para as
ondas inóspitas dos mares da Trácia porque o que a noite não mata, o
dia imediato com certeza destrói. Ó Júpiter, nosso Pai, senhor das
faíscas ofuscantes, esmaga esse Marte impiedoso sob teus raios
terríveis!
Ó rei Lício, nós pedimos que de teu arco de ouro tuas flechas
invencíveis fossem lançadas para nos socorrer, para nos proteger, bem
como as tochas ardentes de Diana, com as quais ela percorre as colinas
de tua terra. Invocamos também o deus de dourada fiara, que usa o
nome de nosso país, Baco, de sátiras faces, o deus da alegria, para
que, com seu cortejo de ninfas, corra também em nosso auxílio, com
seu flamejante archote, contra esse deus cruel, que ninguém venera!
Reaparece GRIPO, que sai do palácio durante a última estrofe.
ÉDIPO
(Ao Corifeu) Tu ergues tua súplica; e o que vens pedir aos
deuses, a proteção e o alívio a teus males, tu obterás, sem demora,
se quiseres ouvir minhas palavras, e agir como se faz mister, em
face do flagelo. Estas palavras, dirijo a todos vós, cidadãos, sem
que nada saiba acerca do assassínio: sou estranho ao crime, e a
tudo o que...
para onde correm de todo os pontos, soltam
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gemidos pungentes, implorando o fim de tanta desventura. E à
lamúria dolorosa se juntam os sons soturnos.
E o poderoso Marte, que ora nos inflama sem o bronze dos escudos,
ferindo-nos no meio destes gritos de horror, afungentai-o para bem
longe de nossa terra, ou para o vastíssimo leito de Anfitrite, ou para as
ondas inóspitas dos mares da Trácia porque o que a noite não mata, o
dia imediato com certeza destrói. Ó Júpiter, nosso Pai, senhor das
faíscas ofuscantes, esmaga esse Marte impiedoso sob teus raios
terríveis!
Ó rei Lício, nós pedimos que de teu arco de ouro tuas flechas
invencíveis fossem lançadas para nos socorrer, para nos proteger, bem
como as tochas ardentes de Diana, com as quais ela percorre as colinas
de tua terra. Invocamos também o deus de dourada fiara, que usa o
nome de nosso país, Baco, de sátiras faces, o deus da alegria, para
que, com seu cortejo de ninfas, corra também em nosso auxílio, com
seu flamejante archote, contra esse deus cruel, que ninguém venera!
Reaparece GRIPO, que sai do palácio durante a última estrofe.
ÉDIPO
(Ao Corifeu) Tu ergues tua súplica; e o que vens pedir aos
deuses, a proteção e o alívio a teus males, tu obterás, sem demora,
se quiseres ouvir minhas palavras, e agir como se faz mister, em
face do flagelo. Estas palavras, dirijo a todos vós, cidadãos, sem
que nada saiba acerca do assassínio: sou estranho ao crime, e a
tudo o que...