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Criança de rua

Matéria: Crianças de rua apresentam transtornos mentais

Autor - Fonte: Juliana Falcão

Ver menores trabalhando nos faróis, vendendo doces ou limpando vidros dos carros, não é uma situação comum apenas na cidade de São Paulo. Mas foi nas ruas dessa metrópole que uma pesquisa realizada pela Unifesp revelou que a saúde mental dessas crianças e também de suas mães não anda nada bem.

Segundo os dados coletados entre outubro de 2008 e março de 2009, 67% das 191 crianças avaliadas apresentaram algum tipo de distúrbio emocional. Entre os problemas estavam enurese noturna, que é a perda de urina durante o sono (8,6%), TOD - Transtorno de Oposição e Desafio, que são comportamentos negativistas e hostis (6,4%), TDAHI - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (4,8%), transtorno de conduta (4,3%), depressão (2,7%) e fobia (2,7%).

A pesquisa foi coordenada por Andrea Feijó Mello, médica responsável pelo ambulatório de estresse e depressão do Prove-Unifesp (Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência). Este programa tem uma parceria com a Ong Rukha, que trabalha com crianças para tirá-las do trabalho infantil. Todas elas são encaminhadas pela prefeitura de São Paulo para esta entidade, onde as famílias recebem atendimento. "Em 2008, um novo grupo ingressava no projeto e, como eu tinha grande interesse em estudar crianças submetidas a situações de intenso estresse, optei por avaliá-las neste momento inicial antes da intervenção, que visa erradicar o trabalho delas nos faróis", explica Andrea.

Das 191 crianças ana isadas por meio de questionários padronizados e mundialmente utilizados para analisar saúde mental, exposição à violência e níveis de estresse, 126 foram encontradas trabalhando e as restantes eram irmãos moradores do mesmo domicílio, mas que não realizavam atividades nas ruas. "Em geral, as que trabalhavam eram mais jovens. Avaliamos crianças entre sete e 14 anos de idade e os maiores de 12 trabalhavam na rua com maior frequência", revela a médica. "Não existe uma explicação pré-estabelecida para elas irem para as ruas, mas fatores como ter mais de 12 anos, ser afrodescedente, ter algum problema mental e sofrer punição física severa em casa podem contribuir para fomentar a situação".

As mães dessas crianças também passaram por avaliação. Os resultados comprovaram que das 79 mães, 49 se mostraram suscetíveis a problemas mentais, com predominância de sintomas dos tipos depressivos ou ansiosos. "Nem todas as crianças que apresentaram problemas são filhas de mães doentes, mas existe sim uma correlação positiva entre mãe com probabilidade de problemas mentais terem filhos com sintomas semelhantes. Isso quer dizer que o risco de transtornos é maior para as crianças, cujas mães também têm", comenta Andrea.

O instrumento utilizado pela coordenadora não oferece um diagnóstico final, sendo necessária uma avaliação psiquiátrica para descartar ou confirmar possíveis transtornos e indicar o tratamento adequado. "De qualquer forma, a avaliação mostra que esta população é bastante adoecida. Estudos em outras comunidades de baixa renda do Brasil mostraram no máximo 40% de rastreamento positivo para problemas mentais em crianças e entre 12 e 20% de diagnóstico confirmado", ressalta Andrea.

Na opinião da especialista, várias ações serão necessárias para diminuir o número de crianças nas ruas. Em termos de saúde pública, ela acredita que é preciso entender os fatores de risco para tornar as abordagens mais direcionadas. "Retirar as crianças das ruas é essencial, mas a abordagem das famílias é primordial. A violência começa no ambiente onde estas crianças vivem e estão sendo criadas. E este ciclo se perpetua quando vão para as ruas", lembra.


Agitado ou hiperativo?
Estresse Infantil

Outro alerta feito por Andrea é que estas crianças, com problemas de saúde mental em idade tão precoce, mas ainda sem um diagnóstico de transtorno mental, devem receber atendimentos pedagógicos, psicológicos e ter acesso a ambientes mais saudáveis. "Elas precisam frequentar a escola e outros núcleos onde desenvolvam atividades adequadas à sua idade e formação. Este sim é um trabalho preventivo para o desenvolvimento de transtornos mentais", afirma. "Aquelas que apresentam algum problema devem ser cuidadas, uma vez que o tratamento precoce modifica a evolução de diversos quadros, recuperando a criança e transformando-a em um adulto saudável".

Por Juliana Falcão (MBPress)


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