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Gato

Matéria: Aprendendo a amar – o poder de um bicho de estimação

Autor - Fonte: Andrea Pavlovitsch

Quando eu estava na quarta série entendi que poderia, um dia, escrever bem. Numa sala cheia de pré-adolescentes, a minha redação foi escolhida para ser a lida da semana pela professora. Um exemplo de redação! Isso, me lembro ainda, causou o furor de algumas coleguinhas invejosas e a admiração de meninos tão despreparados para a vida quanto eu naquele momento. Fiz uma redação muito bonita cujo título era “Xuxu, como eu gostaria de tê-lo para mim”.

Xuxu era o cachorrinho do meu padrinho, um homem frio e distante, com quem eu encontrei poucas vezes na minha vida. Mas o cãozinho de pêlos curtos e dourados nunca saiu da minha cabeça infantil. Já naquela época, e como toda criança, eu era doida pra ter um cachorro. E, claro, como quase todas as mães, a minha não queria de jeito nenhum. Isso por um trauma dela, de infância. Problemas de família.

Anos depois, já aos meus 18 anos, minha mãe resolveu abrir a guarda. Minha irmã mais nova infernizou a vida dela, até que ela aceitasse um dos cãozinhos da ninhada de cinco que uma cadela de propriedade de uma amiga dela tinha parido. Era uma poddle. Abricó.

No dia em que fomos buscá-la fazia um sol danado. Chegando lá a dona foi pegá-la e a trouxe embrulhada nuns paninhos brancos, toda enrugada ainda. Minha mãe a pegou e a colocou no colo com lágrimas nos olhos. De alguma maneira sabíamos o quanto aquele cãozinho seria importante para as nossas vidas. Estávamos num momento de mudanças impo tantes e de vitórias depois de anos de lutas e sacrifícios. Meg, como a apadrinhamos, veio como um prêmio a uma infância difícil que ficava para trás, de problemas financeiros que começavam a ser sanados e de escolhas complicadas que não pareciam mais tão difíceis aos 18 anos. Ela era a nossa princesinha.

Trouxemo-la para casa e a colocamos numa caminha limpa e fofa na lavanderia. Até então era lá o local de onde ela nunca deveria sair. Mas, já na primeira noite ouvimos o chorinho agudo e a deixamos entrar nos quartos... só um pouquinho. Depois ela subiu na cama... só um pouquinho. E de lá nunca mais saiu. Pelos próximos 13 anos ela viveu como um membro da família: cama própria (embaixo da cama da minha mãe), banheiro privativo, brinquedos e mais um monte de coisinhas tipicamente caninas.

Alguns pediriam que trocássemos nosso cachorro por uma criança pobre. Mas, eu digo que a relação com um cãozinho é completamente diferente. Ela era arteira e fazia xixi pela casa, vomitava, dava um trabalhão. Mas quando chegávamos em casa, não interessa de onde, ela olhava com seus olhos pretinhos como que dizendo “seja bem vinda” e abanava o rabinho um milhão de vezes. Depois deitava no seu cantinho, com a barriguinha cheia de quibe e queijo e roncava no sono dos justos.

Por muitas vezes olhava para ela e pedia para nascer cachorro na próxima encarnação. Por muitas vezes olhei para ela quando estava feliz e contava-lhe alguma novidade boa, como o telefonema do meu amor. Outras vezes ela me pegava xingando o desgraçado e simplesmente se sentava ao meu lado para que eu alisasse os pêlos branquinhos e curtinhos.

Na semana passada ela fez uma cirurgia. Mais uma dentre tantas pelas quais ela já tinha passado. E não voltou mais para casa.

Fico me perguntando: para onde vão as almas dos cães? Acho que nunca li sobre isso em lugar algum. Como ainda não descobri, só tratei de pensar nas coisas boas que ela tinha deixado. Seus olhinhos pretos e sinceros. Seu sorriso de cachorro (sim, os cães também dão muita risada). As brincadeiras, a maciez dos seus passinhos em casa. Os lacinhos espalhados pela sala. Até mesmo a sujeira que ela fazia.

Ainda estou chorando. Ainda estou de luto. Um luto que não passará tão fácil como eu pensei um dia. Ela era mais do que eu poderia imaginar na minha vida. Era uma companheira, muitas vezes mais companheira que os humanos. Ela era amiga, confidente. Ela foi o maior exemplo de amor incondicional que eu já tive. E, a mim, só resta seguir os seus exemplos. Dar amor, incondicional, amar, amar, amar... e viver, viver, viver... porque não é necessário esperar mais uma encarnação para aprender a amar. Eu disse “Eu te amo” para ela muitas vezes, mesmo sabendo como é difícil falar isso para o nosso pai, nosso amor, nossos amigos. Mas essa foi a maior lição que ela poderia ter deixado.

Termino o texto com lágrimas nos olhos, pensando que um dia vamos nos reencontrar. E eu já terei aprendido a amá-la como eu sei que ela me amou: incondicionalmente.


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